terça-feira, 20 de setembro de 2016



PRENHEZ INDESEJÁVEL

A menina
corria, corria
ladeira a baixo
a todo vapor
o pai
querendo contê-la
dizia
filha - não corra
pois é perigoso o caminho
tu podes tombar
e os espinhos
podem te arranhar. 

A menina
sorria, sorria
na felicidade total
sem se importar
com os atropelos
com os conselhos
e coisas e tal
a mãe
dizia
filha - não sorria
pois a coisa está feia
tu podes acabar mal.

A menina
gritava, gritava
a todo pulmão
- é a vida papai
é a vida mamãe
não se preocupem comigo
eu sei o que faço
deixe eu correr, sorrir, gritar
não adianta parar
são as coisas boas da vida
a lei é brincar,  é gozar
eu tenho que aproveitar.

A menina
brincou, brincou
gozou, gozou
de todas os deleites
e não escutou                               
os conselhos do pai
e nem tampouco da mãe
e como castigo
veio a estação
e ela
parou, parou
enfim veio a lassidão.

A menina
procurou, procurou
os que se enroscaram com ela
entre ruas e vielas
não os encontrou
e ao decorrer do tempo
veio a tristeza
a vergonha, a rejeição,
o revés, a solidão,
a incerteza,
a angústia, a gravidez
e a menina virou, virou
mais uma mãe solteira.

JUARÊZ CARLOS
Presidente da Academia Palmarense de Letras


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