terça-feira, 20 de setembro de 2016



PRENHEZ INDESEJÁVEL

A menina
corria, corria
ladeira a baixo
a todo vapor
o pai
querendo contê-la
dizia
filha - não corra
pois é perigoso o caminho
tu podes tombar
e os espinhos
podem te arranhar. 

A menina
sorria, sorria
na felicidade total
sem se importar
com os atropelos
com os conselhos
e coisas e tal
a mãe
dizia
filha - não sorria
pois a coisa está feia
tu podes acabar mal.

A menina
gritava, gritava
a todo pulmão
- é a vida papai
é a vida mamãe
não se preocupem comigo
eu sei o que faço
deixe eu correr, sorrir, gritar
não adianta parar
são as coisas boas da vida
a lei é brincar,  é gozar
eu tenho que aproveitar.

A menina
brincou, brincou
gozou, gozou
de todas os deleites
e não escutou                               
os conselhos do pai
e nem tampouco da mãe
e como castigo
veio a estação
e ela
parou, parou
enfim veio a lassidão.

A menina
procurou, procurou
os que se enroscaram com ela
entre ruas e vielas
não os encontrou
e ao decorrer do tempo
veio a tristeza
a vergonha, a rejeição,
o revés, a solidão,
a incerteza,
a angústia, a gravidez
e a menina virou, virou
mais uma mãe solteira.

JUARÊZ CARLOS
Presidente da Academia Palmarense de Letras


quinta-feira, 15 de setembro de 2016


ELIAS SABINO DE OLIVEIRA





ELIAS SABINO DE LIVEIRA

 IGREJA PRESBITERIANA DE PALMARES

 







































         NASCIMENTO : 06/06/1920  ++++ FALECIMENTO: 07/09/2016

Para mim é uma extraordinária satisfação homenagear um ser humano que foge dos padrões normais, um QI privilegiado, é um excepcional, e me deixa altamente titubeante; pois Elias Sabino de Oliveira é um polivalente na acepção da palavra - Pastor, Teólogo, Professor, Revisor Gramatical, Cronista, Filósofo, Poeta, Escritor, Advogado, homem dotado de preciosa sapiência, de extraordinária capacidade educacional, intelectual, global, científica, espiritual e filosófica, de memória fotográfica - que causa confiança, que estabelece elos de coparticipação, de vivência terrena e transcendental, de realidade, de segurança, de passado, de presente, de futuro, de conhecimento.

Elias Sabino de Oliveira, natural de Viçosa - Alagoas - nasceu em junho de 1920, casado com a bibliotecária, professora Jessiva Sabino de Oliveira. É pai de Rosa, Cenira, Eniel, Lídia e Elias Sabino de Oliveira Filho, iniciou seus estudos em sua terra natal, posteriormente concluiu Curso Ginasial Antigo no Colégio XV de Novembro em Garanhuns - Pernambuco, em seguida fez o Curso Colegial Clássico no Colégio Americano Batista - Recife - Pernambuco. É bacharel em Teologia pelo Seminário Presbiteriano do Norte - Recife - Pernambuco, em 1947 - foi ordenado Pastor em 15 de junho de 1948, pelo Presbitério Sul de Pernambuco, bacharel em Línguas Neolatinas pela Faculdade Católica de Pernambuco e licenciado pela mesma Faculdade, concluiu Direito na Primeira Turma da Faculdade de Caruaru - Pernambuco.

Chegou a Palmares - Pernambuco em 1948, eleito Pastor da Igreja Presbiteriana a qual apascentou ininterruptamente até 1987, quando foi jubilado e feito Emérito da mesma Igreja.

Exerceu função de Secretário Jurídico da Prefeitura Municipal de Palmares e outros cargos de confiança.
Igualmente, foi Professor e Diretor do Ginásio Municipal, sendo atualmente Professor Emérito.
Lecionou Latim na Faculdade de Formação de Professores da Mata Sul - FAMASUL - Palmares - Pernambuco.
Participou de fundação de Revistas e Jornais. É Revisor Gramatical de Livros e Trabalhos Literários, Jurídicos e Teológicos. Escreveu e editou os seguintes livros: FLORILÉGIO ECLESIAL - Presbitério Sul de Pernambuco - História do Presbiterianismo no Nordeste Brasileiro (2007), TEMPOS DE ENFADO (2007), CONSTELAÇÃO (2009) e E... QUEM É O MEU PRÓXIMO? (2013) e SETE MULHERES E OUTRAS SETES (2015).

Entre muitos trabalhos do escritor Elias Sabino de Oliveira - destaco este:

NECROLÓGIO
      
             Elias Sabino de Oliveira

Vi derramado no leito da estrada
o sangue do Presbítero,
- um santo homem de Deus.
Vi o carro amassado,
guinchado,
todinho ensanguentado.

E vi ao chão estranha argamassa
de sangue e de areia.
Vi folhetos sobre a fé
intitulado – “não temas”,
tingidos de sangue do homem de fé.

E vi os vidros da janela salpicados
como as vergas das portas do Egito,
pregando o último sermão
- que não foi pregado
e que ninguém esqueceu.

E vi a dor, o pranto e o mistério,
e a solidariedade dos mortais,
em testemunho de que todos nós
somos a semelhança de Deus.

Então pensei.
E fiquei pensando.
Pensei que os santos não morreriam assim.
E morrem.
Pensei que o anjo do Senhor
acampado ao redor dos que o temem
livraria desses maus horrores.

Pensei que nem o sol nem a lua
Feririam os santos do Senhor.
Mas agora eu sei.
Eu sei que não sei –
agora eu sei que ninguém sabe
os desígnios e mistérios de Deus.
... Ninguém sabe a flor que é no jardim de Deus.
Se cravo, ou se sempreviva,
se rosa, ou se jasmim,
se bela, e sem perfume
ou se perfumosa e bela.

O Abel era uma rosa,
perfumosa,
foi colhido em botão,
para ornamentar para sempre
a mansão de Deus.

Memorizei e fiz a outros memorizar:
“Sê fiel até a morte
e dar-te-ei a coroa da vida”.
Mas agora no leito da estrada
aprendi nova lição:
Ser fiel até morrendo
para receber
a coroa da vida.

Fui seu discípulo no Ginásio Municipal Fernando Augusto Pinto Ribeiro de Palmares - Pernambuco, um professor amado por todos, temido e exigente em suas lições de Português e de Literatura, e tinha que ser assim; pois ensinava aos seus discípulos que a maior herança ou legado que se tem é expressar corretamente o idioma pátrio.

Sou seu discípulo eterno - durante toda a minha existência, minhas peregrinadas, meus trabalhos, meus empreendimentos - Elias Sabino de Oliveira está ao meu lado levando e doando a sua experiência e a sua boa vontade. Arrazoamos muito, aprendi muito, e só não aprendi mais porque confesso não ser um bom aluno. 
           
            Tive o privilégio de ter sido parceiro do escritor Elias Sabino de Oliveira em seu livro TEMPOS DE ENFADO, e do jornal JUVENTUDE, das revistas: CRI-CRI, LUZIR E ATALAIA.

Advogado dos melhores, seus conhecimentos jurídicos varam as fronteiras de Pernambuco, muitos colegas seus - quando indecisos em suas defesas, em seus trabalhos jurídicos o buscam na certeza que o Dr. Elias Sabino de Oliveira haverá de orientá-los.

Quero registrar que certa vez fiz a seguinte pergunta a Elias Sabino de Oliveira – Doutor... Por que o senhor não se submete ao concurso de juiz? Ele respondeu - Juarez Carlos - antes de tudo eu sou um Ministro do Evangelho, sou um Pastor, minha grande missão é orientar o Povo de Deus. É cuidar das coisas eclesiásticas.

Delineio estes versos para o meu Amigo e meu Pastor Elias Sabino de Oliveira.

MEU PRÓXIMO
                  Juarêz Carlos

Contemplei o firmamento se acendendo,
Seu esplendor Igual às comportas do saber,
Vi as nuvens em movimentos se repetindo
No alvorecer, no entardecer e no anoitecer.

Seguindo seu rumo sem saber aonde chegar:
Ora peças disformes, abstratas e monocromas,
Todavia criando, adornando em seu devagar...
Ora figuras formatadas, belas e policromas,
Deixando carreiros de encantos e indagações -
Invadindo corpos, espíritos, almas e corações.

 Olhando mais além o firmamento, o etéreo -
Contemplando as estrelas, as constelações,
Percebi que algo concreto, brilhante, corpóreo,
Que como nuvens em frenéticas evoluções
Borbulha nas águas do Rio Una inspirador
Tornando-se atalaia constante do Criador.

Em Viçosa, no Estado das Alagoas aparece,
Meu próximo: Pastor Elias Sabino de Oliveira,
Com maestria, consistência resplandece
Em Palmares, Pernambuco - Terra hospitaleira.

Muito Obrigado Pastor Elias Sabino de Oliveira.
         Palmares, 12 de julho de 2014.

                             Meu discurso em homenagem ao Acadêmico, o Imortal Elias Sabino de Oliveira da Academia Palmarense de Letras – APLE.
                         Sede da APLE, 12 de setembro de 2016.       
                           


 
                               Juarêz Carlos
                                Presidente da Academia Palmarense de Letras
                                   Cadeira: 4 – Patrono: Hermilo Borba Filho