A PÁSCOA
Na
Na
Sexta-feira
Santa, assim denominada pelos cristãos; principalmente os católicos – eu presenciei
um fato inédito em minha modesta residência, eu Bacalhau e Piaba, minha esposa,
mulher altamente dedicada, prestimosa e prendada na arte gastronômica -
elaboramos o almoço pascoal, que modesta à parte, uma delícia semelhante aos
bacanais dos deuses, regado por bom vinho e genuíno uísque escocês. Antes do
almoço foi servido um divino couvert artístico - caldinho de Lagosta,
torradas de pão suíço com caviar, azeitonas
portuguesas pretas flambadas ao azeite italiano extra-virgem de zero grau de
acidez, iscas de salmão, queijos finos e outros petiscos saborosos, após
bebermos e petiscarmos por duas horas, eis que se aproxima o esperado almoço.
Éramos treze:
eu Bacalhau, Tilápia, Lampreia, Xaréu, Atum, Pari-vivo, Acari, Jundiá,
Pirarucu, Curimatá, Sarapó, Dourado, não se encontrava conosco meu “noro”, Muçum,
fora com sua esposa, minha querida filha Moreia atender o convite-intimação de
nossa amiga Jiboia, chefe da saúde do município de Piranha, para o coquetel
pascal em sua residência, Bagre, meu vizinho de frente e seu tio Tubarão, homem
que se identifica com os saborosos abacaxis de Parati - encravada em Carapeba,
cidade limítrofe, pois parte da referida cidade se situa no vizinho Estado da Piraíba.
Enquanto se deliciavam com os
gostosos quitutes surgem as conversas, os elogios, as virtudes, as brigas
vencidas, as historietas, as fanfarras, as peripécias, as bravuras, os
namoricos infanto-juvenis, as namoradas, as melograndezas, as espertezas – só
farrambambas!!! - Em momento nenhum se evidenciaram as derrotas, os fracassos,
as imperfeições, a pobreza, os medos; pois todos arrotavam grandeza, destemor,
coragem - capazes para fazer tudo - uns disseram que roubaram laranjas do pátio
de sua escola juntamente com seu endiabrado irmão e sobrinho Tamuatá, Pirarucu
falou das duas namoradas, uma de Arraia e outra de Ubeba, outros afirmaram que
para se considerarem homem tinham que caçar Tatu á noite sem lua e sozinho - e
se ao amanhecer apareciam para os meninos-homens com o tatu nas mãos eram
considerados homens, caba macho, caba da peste, façanhas que todos
vivenciaram e pegaram tatus de todas as espécies – tatu peba,
tatu verdadeiro, tatu bola e o gigantesco tatu elefante que pesa mais de uma
tonelada. Este por seu peso era necessário que todos os ansiosos desafiantes
tinham que verificar no matagal: outros discorreram sobre suas gostosas aventuras
amorosas nos imensos igarapés, nos canaviais, nos rios, outros enfrentaram bois
bravios, potros selvagens que eram domados apenas com os seus olhares autoritários,
as andanças em busca de votos para Pai Lambari, e para se gabar e receber o
olhar de seu ídolo político, ao invés de usarem chapéus de palha, usavam
sombreiros, outros diziam que eram e são o reis das cocadas pretas lá pras
bandas de Guarajuba; pois quanto acuados, a água preta ficava branca - na
verdade - verdadeiras façanhas e audácias pelos rincões de nosso país, que
beleza! Que alegria! Que verdade! Audaciosos todos demonstraram que não são
de brincadeiras;!
Foram
assim as nossas loas e lorotas.
Quando
menos se espera surgiu ao nosso redor o oficial dos bons costumes e obediência,
o jovem Guaru que ao avistar o seu genitor foi logo dizendo:
-
Pai - me dê cinco reais - se não eu volto pra casa e digo à mamãe que não
encontrei o senhor, que o senhor está em local incerto e não sabido.
Com
a finalidade exclusiva e única de permanecer saboreando e contando as suas
espertezas vasculhou os bolsos lamentando informar ao filho:
- Filho
- infelizmente eu não disponho de dinheiro aqui, pois minha carteira, minha porta-cédula
se encontra em casa.
Sem
titubear Guaru disse:
-
Só me resta informar à mamãe o seu paradeiro e que o senhor não vai obedecer a
intimação - papai - ainda há tempo para o senhor se redimir - onde está a sua
carteira para que eu possa verificar e tirar a propina para calar minha boca?
-
Filho - pondera! - Não diga nada a Truta, eu não quero aborrecimento.
-
Tem acordo não pai.
O
oficial Guaru detalhou todos os pormenores a sua mãe. Dona Truta não gostou e mandou a última intimação.
- Diga ao seu pai que eu desde ontem
estou na cozinha preparando o almoço, pois até incomodei os vizinhos Bacalhau e
Piaba - se eles tinham raspador de coco, pois já havido comprado 3 e os 3 se
quebraram.
-
Amigo Bagre - a sua empregada doméstica, Dona Merluza veio em minha casa duas
vezes para pedir emprestado o raspador de coco, a primeira vez que ela esteve
em minha residência eu disse para ela vir depois, pois não sei se possuo e, tenho
que perguntar a Piaba e procurá-lo, uma vez que faz muito tempo que não se
raspa coco em minha casa.
-
Merluza - há tempo que não se raspa coco em nossa casa. No que disse ela;
-
Tá bem doutor - daqui a pouco eu venho saber:
Esclarecia a todos a história do
raspador quando Guaru informou.
-
Esta é a última intimação. Não só pra o senhor meu pai, mas para o senhor meu
tio, minha tia Dona Ubarana está tiririca com o senhor também - é pra os dois
irem agora mesmo.
Bagre
começou a gaguejar enquanto arquitetava uma satisfação convincente. De repente
se escuta um barulho ensurdecedor. Passado o barulho eu perguntei a Xaréu - cadê
Tubarão?
- Bacalhau
- não sei... Pensando bem, este barulho foi provocado pelo pulo que ele deu,
(de fato ele havia pulado o muro de mais de dois metros e meio) - ele não se
encontra mais aqui, escafedeu-se nas curvas deste velho mundo.
Em
pânico Xaréu olhou pra Bagre e arrematou:
- A
coisa está feia para você meu amigo.
Ofegante
com o coração a tudo vapor, vermelho igual a um camarão, se ergueu cambaleando,
se orientou em busca do portão - disparando para sua casa.
- Xaréu - cadê o homem?
- Não
sei Bacalhau - ele saiu daqui feito uma bala.
- E
agora - o que faremos?
- Bacalhau
- é melhor a gente verificar em loco o destino de nossos heróis.
- Sendo
assim - só nos resta irmos para a casa de Bagre - temos que constatar em loco se
os dois fugitivos se encontram por lá.
Os fatos
foram comprovados. Os dois patetas, cabisbaixos estavam sobre as ordens das patroas.
Finalmente
o almoço foi servido. O desjejum confirmado. A tarde passou, a noite chegou e
para concluir esta história saboreamos escabeche de cavala, quibebe, bredo,
feijão de coco, e por fim saborosíssimas
lagostas que cá pelos meus cálculos matemáticos tinham mais de quinze
quilogramas cada uma.
Sim à
mesa estavam também minha filha Moreia, meu “noro” Muçum, Tubarão, sua esposa Ubarana,
dona Anchova, a Piraibana, suas filhas: Carpa e Agulha, os anfitriões Bagre e Truta,
seus filhos: Guaru e Cachara, o “noro” Carapau, as sobrinhas Enguia e Piramboia
e todos os que se encontravam na minha casa.
Para
não haver mais imbróglio, o almoço foi servido na casa dos meus vizinhos Bagre e
Truta.
Palmares, 27 de agosto de 2016.
Juarêz
Carlos
Membro e Presidente da Academia Palmarense de Letras – APLE
Cadeira 4 – Patrono Hermilo Borba Filho